Iguatu. As reservas hídricas do Ceará caíram para 9,7%, o menor percentual em 22 anos. O quadro é grave e preocupante. Nos próximos meses segue a tendência de queda do nível dos açudes estratégicos para o abastecimento de água dos centros urbanos. Pelo menos nos próximos quatro meses não há expectativa de ocorrência de chuvas no sertão cearense significativas para recarga dos reservatórios.
A Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) monitora 153 açudes no Ceará. Desse
total, 128 estão com volume abaixo de 30%. Há 23 reservatórios secos e 46 com
volume morto. Não há nenhum acima de 90%. No início deste ano (janeiro) as
reservas hídricas estavam em 11,19%. Apenas 10 açudes têm volume acima de 50%,
a maioria de pequeno porte.
A perda das
reservas hídricas pode afetar ainda neste ano ou início de 2016 o pleno
funcionamento de Adutoras de Montagem Rápida (AMR) que transferem água de açudes
para os sistemas de tratamento e distribuição nas cidades. No Ceará, há 26 AMR
em funcionamento, atendendo demanda de 28 cidades.
O Governo do
Ceará, por meio de uma comissão de técnicos da Cogerh, Secretaria de Recursos
Hídricos (SRH), Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), Cagece e
outras instituições avalia semanalmente o quadro das reservas hídricas e a
situação dos sistemas alternativos de abastecimento das cidades e de áreas
rurais.
O objetivo é
definir medidas como perfuração de poços, instalação de adutoras ou mudança de
pontos de captação, ampliação de entrega de água por caminhões pipa e
implantação de reservatórios (caixas de polietileno, chafarizes) em ruas da
cidade para distribuição do recurso hídrico para a população.
O Ceará enfrenta
cinco anos seguidos de chuvas abaixo da média, sem recarga nos principais
reservatórios, com perda constante do volume de água. Na região dos Sertões de
Crateús, esse quadro já se verifica há sete anos. A instalação de uma AMR que
faz captação de água no Açude Araras, que está com menos de 5% de seu volume,
na Bacia do Acaraú, e transfere para sistemas de tratamento e distribuição para
Varjota, Ipu, Nova Russas e Crateús, evitou o colapso no sistema dessas
cidades. A reserva atual atende a demanda até março do próximo ano, segundo o
gerente da Cagece, em Crateús, Dalmo Barreto.
E se não
chover suficientemente para ocorrer recarga dos açudes na próxima quadra
invernosa (fevereiro a maio), como vai ficar a situação? Dezenas de cidades vão
entrar em colapso no sistema de abastecimento de água. "A situação é
bastante crítica face à situação dos reservatórios", disse o
meteorologista da Funceme, David Ferran. "Estamos enfrentando o pior
cenário de anos seguidos de seca nos últimos 50 anos".
Precipitações
Ferran disse
que até o fim do ano pode haver precipitações, mas sem importância para a
recarga dos reservatórios. "São chuvas do caju ou de pré-estação, mas não
significativas para armazenar água". Sobre previsões para 2017, "só
em janeiro teremos informações mais precisas".
O quadro
meteorológico mostrava-se animador, após o fim do ciclo de El Niño, e a
ocorrência do inverso, o fenômeno La Niña, que favorece chuva no Semiárido
nordestino. Entretanto, esse modelo meteorológico deve perder força em março,
justamente o período em que deveria ocorrer maior incidência de chuva na
região. O quadro tende a ser de neutralidade nos níveis de temperatura
superficial das águas do Oceano Pacífico. "Se assim, permanecer, vamos
depender das condições do Oceano Atlântico", explica Ferran.
Bacias
O Ceará foi
dividido em 12 bacias hidrográficas. A situação mais crítica verifica-se nas
bacias do Baixo Jaguaribe que acumula um volume de apenas 0,23%; Curu, 2,32%;
Banabuiú, 2,44%; Sertões de Crateús, 2,84% e Acaraú, 9,29%.
Os grandes
reservatórios e aqueles estratégicos para abastecimento de centros urbanos
estão secos ou secando. O Castanhão acumula 7,0% e o Orós, 22,3%. Em meio à
crise, 10 reservatórios mantêm níveis acima de 50%, mas a maioria é de pequeno
porte: Jenipapo (Meruoca), 77%; Caldeirões (Saboeiro), 70%; Colina
(Quiterianópolis), 67%; Trici (Tauá), 66%; Curral Velho (Morada Nova), 64%;
Tatajuba (Icó), 62%; Itaúna (Granja), 60%; Tucunduba (Senador Sá), 55%; Itapajé
(Itapajé), 54% e Acaraú Mirim (Massapé), 50%.
Diário do
Nordeste
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