Os abrigos de
ônibus ainda de pé, as lombadas, um canteiro central e edificações demolidas às
margens da estrada. Depois de 16 quilômetros fora da BR-116, vai ficando claro
que a rodovia desativada um dia serviu de acesso aos moradores da velha
Jaguaribara. A cidade que já esteve banhada pelo açude Castanhão vem se
revelando desde 2013. E a redução do nível do reservatório, que ontem tinha
9,98% do volume, deixa os escombros cada dia mais distantes da água.
Há dois anos,
indícios da velha Jaguaribara começaram a ser vistos em passeios de barco. O
trajeto por terra segue por fora do reservatório, pela BR-116 no sentido do
município de Jaguaribe. Depois, é encontrar o trevo de acesso à antiga cidade e
seguir pela estrada que já esteve submersa.
Casa, escola,
mercearia, o paralelepípedo das ruas. Tudo ressurge misturado nas estruturas
demolidas e quase irreconhecíveis. A decisão de levar tudo ao chão visou a
segurança dos banhistas e pescadores do Castanhão. Foi logo depois da
transferência das famílias em 2001 para a nova Jaguaribara. À época, o Governo
do Estado quis evitar que a cidade abandonada fosse reocupada antes que o açude
ficasse pronto. A conclusão da obra veio em 2003.
Longe das
ruínas, o pescador Francisco de Assis da Silva já se mostra adaptado à vida
fora da velha Jaguaribara. Não se apega ao passado e insiste em continuar no
Castanhão. É onde ele e a esposa Selma sobrevivem pegando tilápia e tucunaré.
Como a seca não dá trégua, ele lembra da filha que mora no Rio Grande do Norte.
“Ela vive chamando a gente, mas eu não quero ir. Só se for o jeito mesmo”,
avisa.
Enquanto
professa fé na chuva boa, o casal contorna as dificuldades. “Aqui dava peixe
demais. Começou a ficar ruim do começo do ano pra cá. Ele fica mais sabido e se
esconde”, lamenta Assis. Ele e Selma costumavam partir com a canoa logo na
saída da Vila Pesqueira do Alto Santo, onde moram. Agora, são pelo menos quatro
longas descidas por dia até a embarcação. Andando por um trecho original da
BR-116, também reaparecido após a seca. Coisa de quando o Castanhão conseguia
banhar também este pedaço de asfalto, pois a rodovia foi desviada em 26
quilômetros para dar espaço ao açude.
O Povo Online
____________________________________________________________________________