O Orós,
segundo maior açude do Estado do Ceará, acumula atualmente 36% de seu volume
total. A reserva é estratégica. Ele assegura o abastecimento da cidade de Orós,
fornece água para perenizar parte do Rio Jaguaribe, atende distritos e sedes
municipais (Jaguaribe e Jaguaretama), dezenas de localidades ribeirinhas e
realimenta o Açude Lima Campos, por meio de um túnel, que, desde o ano passado,
atende a dezenas de cidades do Estado da Paraíba, por meio de caminhões-pipa.
Castanhão
O titular da
Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH), Francisco Teixeira, disse que,
se não houver recarga do Açude Castanhão na próxima quadra chuvosa (fevereiro a
maio de 2016), o governo vai liberar água do Orós para assegurar o
abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). É um cenário
provável, a julgar pelas previsões da Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos (Funceme) que vem alertando sobre o efeito intenso do
fenômeno El Niño, que provoca escassez de chuva no Semiárido brasileiro.
O Açude
Castanhão acumula somente 13% de sua capacidade máxima, segundo dados da
Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh). Se não houver recarga em
2016, o abastecimento de Fortaleza somente está assegurado até setembro do
próximo ano, com a ajuda do Orós, de acordo com Teixeira. "Esse é o pior
cenário com o qual trabalhamos", observou Teixeira. Nesse quadro, o Orós
iria liberar mais água para reabastecer o Castanhão e daí chegar à Capital do
Ceará.
Teixeira
reafirmou que a decisão está tomada, após estudos, pela SRH e por outros órgãos
do Estado. Entretanto, se houver chuvas suficientes em fevereiro e março do
próximo ano, o cenário é outro e a decisão de esvaziamento do Orós deverá ser
adiada. Na operação, deve-se optar por descarga elevada em torno de 20 m3/s
para formação de grandes ondas, evitando desperdício em obstáculos naturais e
por evaporação.
Os moradores e
produtores rurais da Bacia do Orós temem a repetição de 1993, quando o Ceará
atravessou uma seca intensa, com perda de reservas hídricas e risco de colapso
no abastecimento de Fortaleza. Naquele ano, o governo do Estado construiu em
caráter emergencial o Canal do Trabalhador para a transferência de água do
Açude Orós, que ficou com volume morto. Na época, não havia o Castanhão.
O esvaziamento
do Açude Orós trouxe dificuldades para os produtores rurais e moradores da
cidade e de áreas ribeirinhas. "O governo descobriu um santo para cobrir
outro e nós até hoje não recebemos recompensa nenhuma", disse o produtor
rural, Luís Souza. "Deixamos de produzir e ficamos sem água, trabalho e
renda". Naquela época, era intensa a produção de arroz irrigado nas
várzeas do reservatório e a pesca.
O secretário
de Aquicultura e Pesca do Município de Orós, Henrique Silva, disse que a
preocupação é grande ante o temor de perda da reserva hídrica do Orós. "O
que nós pedimos é redução do volume liberado pela válvula e achamos que o
governo não pode secar todo o Orós para atender Fortaleza, que precisa começar
a economizar água", disse. "Não concordamos com essa decisão de levar
água para indústria, comércio e deixar toda uma região sem reserva".
Campanha
A Prefeitura
de Orós está mobilizada para fazer uma campanha de uso consciente da água e
manter uma reserva mínima para o abastecimento dos moradores. "Infelizmente,
a maioria dos moradores não tem consciência da gravidade da situação",
lamentou Henrique Silva. A Câmara aprovou uma lei encaminhada pelo Executivo
para o incentivo de redução de consumo. O Município faz o pagamento de contas
de água de 200 famílias que se enquadraram nos critérios legais. "Vamos
mobilizar a Cagece (Companhia de Água e Esgotos do Ceará) e a comunidade para
incentivar a economia no consumo de água".
De acordo com
dados do escritório regional da Cogerh em Iguatu, o Açude Orós libera 4.200
litros por segundo ou 4,2 m3/s. Pela válvula dispersora saem 1500 l/s e pelas
turbinas 2700 l/s. As localidades de Feiticeiro, Nova Floresta e as cidades de
Jaguaribe e Jaguaretama são abastecidas atualmente pelas água do Orós e nos
próximos meses talvez inclua nessa lista, a sede urbana de Solonópole.
Mais
informações:
Escritório da
Cogerh - Iguatu
Telefone: (88)
3581- 0800
Secretaria de
Aquicultura e Pesca de Orós
Telefone: (88)
3584-1160
Diário do Nordeste
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