Limoeiro do Norte.
Longe do Sertão Pernambucano, onde a sanfona deu voz ao Nordeste, nas canções
de Luiz Gonzaga, em meio ao Vale Jaguaribano, o som do fole se mantém vivo,
passando de geração em geração. O Festival de Sanfoneiros reúne antigos e novos
instrumentistas, num espetáculo de encher os olhos e encantar ouvidos. A
programação termina amanhã, 23, com homenagem a músicos e intérpretes do
Interior.
O jovem
Vinícius Galiza, natural de Limoeiro do Norte, conheceu de perto a sanfona
quando tinha apenas seis anos, neste mesmo Festival em 2006. Em seu tempo já
eram imortais as canções de Luiz Gonzaga e referências, como a do saudoso
Dominguinhos, serviriam de inspiração para aprender os primeiros acordes ainda
no mesmo ano. Nesse tempo, ganhou do pai uma sanfona e já em 2007 subiu pela
primeira vez no palco do Festival, acompanhando o sanfoneiro Adelson Viana. Não
demorou muito para que a irmã, Raquel Galiza, na época com 10 anos, trilhasse
os caminhos do irmão, e em 2008 os dois passaram a se apresentar juntos.
Hoje Vinícius
e Raquel, "Os Galizas da Sanfona", com 14 e 16 anos, respectivamente,
levam a sério a arte que aprenderam e com a música tentam inspirar outros
jovens. O forró do sertanejo, pé-de-serra, é o que eles levarão ao palco
principal amanhã, a partir das 20h na Praça da Matriz de Limoeiro, quando irão
se apresentar com sua banda, no último dia do Festival.
Veterano
Quem acompanha
com satisfação as novas revelações da sanfona do Interior é o sanfoneiro e
músico Paulo Ney, natural de Russas, mas como diz ele "também filho
Limoeirense", que recebe homenagem pelos seus 50 anos de carreira:
"Limoeiro acolheu a mim e ao meu trabalho e o festival é uma homenagem a
todos os sanfoneiros do Interior".
Hoje com 65
anos de idade, Paulo Ney ainda tem a disposição de fazer show ao lado do filho,
Paulo Henrique, de 31 anos, que há 19 quis aprender o ofício do pai. "A
condição foi terminar os estudos pra aprender a tocar", relembra Paulo
Henrique, que após concluir o ensino médio seguiu os rumos do pai. "Sanfona
é o que a gente gosta de fazer, é o que nos sustenta. É uma coisa que faz parte
da nossa história", conta Paulo Henrique.
Quem também
incrementa as apresentações noturnas durante os três dias do Festival são
sanfoneiros renomados, como o instrumentista Carlito Bandeira, homenageado
pelos 60 aos de sanfona, Zé Celestino e Chambinho do Acordeon, entre outros. Na
palestra Conversa de Sanfoneiro, hoje e amanhã, das 16h às 17h, no auditório do
Núcleo Informação Tecnológica (NIT), ao lado da Praça da Matriz, o sanfoneiro
Alves Nascimento bate o seu papo hoje; e Redondo, juntamente com a Banda Som do
Norte, encerrando a programação diurna, amanhã.
A retomada do
Festival de Sanfoneiros de Limoeiro do Norte foi, de muito tempo, uma demanda
cultural da população do Vale do Jaguaribe, pela importância que suas cinco
primeiras edições alcançaram, de 1968 a 1972. O Festival surgiu em 1968, a
partir do programa Vesperal do Volante, da Rádio Educadora Jaguaribana,
apresentado pelo radialista Luiz Gonzaga de Freitas, que reunia filas de
sanfoneiros em busca de oportunidade. O evento permaneceu no imaginário
cultural do Vale pela efervescência provocada, o surgimento de novos valores e
os tantos casos que, até hoje, alimentam a memória local.
O Festival é
uma realização do Instituto Brasil de Dentro, e está em sua 9ª edição, com
apoio da Prefeitura de Limoeiro do Norte, Secretaria de Cultura do Estado do
Ceará e Companhia Energética do Ceará (Coelce).
Ellen Freitas
Diário do Nordeste
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