Rio de
Janeiro/Fortaleza. A Petrobras avalia adiar o projeto de construção das
refinarias Premium I e II, no Maranhão e no Ceará, em meio a uma desaceleração
no crescimento da demanda por combustíveis no País, disse à Reuters, uma fonte
com conhecimento direto do assunto. As duas novas unidades constam no Plano de
Negócios e Gestão 2014-2018 da estatal, que prevê investimentos totais de US$
220,6 bilhões para o período. A Premium I, no Maranhão, e a Premium II, no
Ceará, aparecem na carteira de projetos em licitação, que deveriam ter
processos "conduzidos em 2014", segundo o plano.
"Não quer
dizer que não será feito. Essas refinarias continuam sendo necessárias, mas não
na velocidade inicial... A decisão ainda não foi tomada, mas há um sentimento
nesse sentido (de prorrogar o início do projeto)", disse a fonte, sob
condição de anonimato. A fonte ressaltou que, nos últimos dois anos, o mercado
de combustíveis no Brasil não vem mais crescendo no mesmo ritmo de antes, o que
altera os indicadores econômicos que vão definir o ritmo de construção de novas
refinarias.
Termo de
compromisso
No Ceará, a
expectativa era de que as obras da refinaria fossem iniciadas no primeiro
trimestre de 2015, segundo já havia informado o titular da Secretaria de
Infraestrutura do Estado (Seinfra), Adail Fontenele.
Ele também já
havia dito que o Termo de Compromisso com a Petrobras para a instalação da
Refinaria Premium II seria assinado ainda neste mês de outubro, após o período
eleitoral, o que ainda não aconteceu a dois dias do fim do mês.
Consultada
novamente ontem, a Seinfra disse que não havia recebido nenhum comunicado
oficial da Petrobras informando sobre o adiamento do projeto da refinaria e nem
mesmo sobre postergação da assinatura do termo de compromisso agendado. A
direção da Petrobras não se manifestou sobre o assunto.
Atraso no
desenvolvimento
As obras da
Reserva Taba dos Anacés foram iniciadas no dia 15 de setembro. A criação da
reserva foi uma exigência da Funai para que ela pudesse dar seu parecer
favorável à instalação da refinaria Premium II no Ceará. Além desse, uma série
de outros investimentos milionários vêm sendo feitos com recursos da União e do
Estado; como fontes de recursos hídricos, de energia, expansão do Porto do
Pecém, estradas etc, para viabilizar o empreendimento que, sequer, foi
oficialmente confirmado pela Estatal Petrolífera. Para o assessor econômico da
Fiec, Fernando Castelo Branco, "se mais esse adiamento se confirmar, será
uma notícia lamentável para o Ceará, porque a construção de uma refinaria leva,
no mínimo, cinco anos, e mais esse adiamento vai prejudicar o plano de
desenvolvimento, o 'up grade' da economia do Ceará. Vai adiar outros
empreendimentos importante no Estado, como a instalação de um polo
petroquímico", lamenta o economista.
Custo das refinarias
Embora ainda
não se saiba o custo das refinarias, a postergação dos projetos pode dar fôlego
financeiro à companhia, num momento em que lida com o crescimento de sua
dívida, que somou ao todo cerca de US$ 140 bilhões, ao fim do segundo trimestre
deste ano - a empresa teve recentemente seu rating rebaixado pela alta
alavancagem, entre outros fatores.
A estratégia
de adiamento de projetos nesse segmento ocorre após a área de refino ter sido o
foco de grandes polêmicas na Petrobras no último ano. Investigações de várias
instituições, como o Tribunal de Contas da União, Polícia Federal e CPIs no
Congresso Nacional, ocorrem sobre os gastos bilionários na construção da
Refinaria do Nordeste (Rnest), em vias de ser inaugurada, e na compra da
refinaria de Pasadena, no Texas.
Além disso, a
Petrobras tem reduzido investimentos em refino, enquanto foca em grandes
projetos de exploração e produção de petróleo. No último Plano de Negócio, o
investimento na área de abastecimento/refino caiu quase pela metade, para US$
38,7 bilhões, em cinco anos, na medida em que alguns projetos como a Rnest
estão sendo concluídos.
"Há
experiências na Rnest e Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), onde
houve um dispêndio de recursos acima do previsto. Com a Premium, não se deve
repetir isso aí", afirmou a fonte à Reuters, lembrando que os altos custos
da Rnest, que beiram a US$ 20 bilhões, trouxeram muitas lições para a
Petrobras. "Essa é um questão de honra (ficar abaixo dos valores da
Rnest). Foi uma lição aprendida ali e todo (o aprendizado) será aplicado...
Forma de contratar, processos...", afirmou.
Opinião do
especialista
Plano de
construção é imutável
O plano de
construção da refinaria Premium II é imutável. Ela será construída sim, mas com
atraso, por necessidade de adequação dos investimentos da Petrobras à nova
realidade do cenário internacional do petróleo. O fato é que os preços do
petróleo caíram e isso reduz a atratividade econômica, porque refino só se
justifica com o preço internacional do óleo alto, que respalde os
investimentos. Além disso, o Brasil passa por um desaquecimento da sua
economia, o que irá refletir na demanda de combustíveis, como gasolina e óleo
diesel. Certamente, a redução nos preços vai impactar na Balança Comercial do
País e nos planos de investimentos da Petrobras, que deve passar a se
concentrar mais na produção de petróleo do Pré-sal, para tornar-se exportadora
de um óleo de qualidade superior. Acredito que ela vai buscar guardar o máximo
de recursos que puder e só irá investir em refino, à medida em que crescer a
produção do Pré-sal. Estimo que as obras da refinaria no Ceará só serão
iniciadas no fim de 2016 ou início de 2017. A refinaria virá sim, porque há uma
volatilidade muito grande e ela vai precisar de refino para atender a logística
nacional da Estatal.
Bruno Lughetti
Consultor de
Petróleo e Gás
Via Diário do Nordeste
________________________________________________________________