O presidente
nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, pré-candidato do partido à Presidência,
enviou na última quarta-feira um breve comunicado aos integrantes da executiva
tucana com três itens relativos à próxima reunião do grupo em Brasília, marcada
para terça-feira. Entre eles, estava o convite para um "ato
comemorativo" dos 30 anos de fundação da sigla. A ideia, dizem integrantes
da cúpula, é fazer um evento discreto e fechado no salão de um hotel "só
para a efeméride não passar totalmente em branco".
Por mais que o
discurso oficial diga o contrário, há consenso entre tucanos que não há motivo
para celebrações. "É o momento mais difícil da história do partido",
reconheceu o deputado Nilson Leitão (MT), líder do PSDB na Câmara.
Em outra
circunstância, o local escolhido seria o auditório Nereu Ramos, na Câmara. Foi
lá que, no dia 25 de junho de 1988, os então senadores Mario Covas e Fernando
Henrique Cardoso anunciaram diante de centenas de militantes eufóricos a
criação do novo partido, ainda sem nome.
Os líderes do
movimento dissidente do PMDB colocaram em votação o nome da legenda. Partido
Democrático Popular, Partido Social Trabalhista e Partido da Social Democracia
Brasileira estavam entre os mais cotados. Após a vitória da sigla PSDB, o
senador paranaense José Richa, um dos recém-filiados, colocou a democracia
interna como uma marca da nova legenda, que nascia em um momento de
"descrença popular com os partidos e instituições".
Trinta anos
depois, a cerimônia fechada no hotel de Brasília ocorre no momento de uma nova
onda de decepção popular com partidos e instituições, que desta vez atingiu em
cheio o PSDB. "O momento é ruim para todos os partidos e para a política
em geral. Há uma crise política sem precedentes", minimizou o deputado
Silvio Torres (SP), tesoureiro do PSDB.
Pré-candidato
ao Planalto, Alckmin está estacionado nas pesquisas de intenção de voto com
números que variam entre 7% e 10%, o pior desempenho de um tucano nesse período
desde 1989. O ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, que presidiu o PSDB,
entrou para a história como o primeiro ex-presidente do partido preso,
reforçando a crise da legenda e dificultando ainda mais o projeto de retomar o
poder após 16 anos.
"Há 30
anos, criamos um partido para dar ao País uma opção política à altura de seus
desafios. Na Presidência, fizemos o mais bem-sucedido programa de modernização
e transformação econômica da história do Brasil", disse Alckmin ao Estado.
"Agora, precisamos lutar mais, vencer de novo as forças que emperram o
avanço do País. O Brasil vai mudar para melhor e, nessa luta, o PSDB
também."
O auge
eleitoral do partido ocorreu durante o segundo governo FHC, quando elegeu uma
bancada de 99 deputados federais e sete governadores, em 1998, e quase mil
prefeitos, em 2000. Embora tenha sido o partido mais vitorioso nas eleições
municipais de 2016, o PSDB tem hoje a segunda menor bancada na Câmara dos
Deputados de sua história, com 49 parlamentares - maior apenas do que a bancada
eleita em 1990.
"O PSDB
perdeu talvez o seu principal discurso, o discurso ético. E não apenas pelo
caso envolvendo Aécio Neves, mas outras lideranças históricas, como Eduardo
Azeredo, que está preso, e José Serra, que é investigado. Até o presidenciável
tucano, Geraldo Alckmin, é citado em casos que envolvem corrupção",
avaliou o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio
Vargas.
Líderes
A promessa de
uma "democracia interna" feita em 1988 não se concretizou. Prova
disso é a falta de renovação de lideranças nacionais e regionais. "Os
líderes ainda são os mesmos e estão velhos. Eles representam o ranço do
partido. Foi uma geração boa, mas que não se renovou", disse o professor
emérito de Filosofia da USP José Arthur Giannotti.
Teixeira
concorda. "Como todo partido, o PSDB não se renovou. Nasceu como um
movimento de crítica à política que se praticava na época, ao fisiologismo do
PMDB, e hoje se assemelha muito a ele. Aceita nomes que não têm nenhum
compromisso com as bandeiras originais do partido dentro de um pragmatismo
calculado para vencer eleições", afirmou.
O cientista
político Carlos Melo, do Insper, pontuou ainda que o PSDB, em determinado
momento, optou por ser apenas oposição ao PT, perdeu seu rosto social
democrata, sua posição progressista nos costumes e se descaracterizou. "Em
determinado momento, com o fim do 'malufismo' em São Paulo, caminhou por uma
extensa avenida que se abriu à direita. Mas, agora, perdeu até isso para Jair
Bolsonaro. Não é mais direita nem centro-esquerda, como se definiu na fundação."
Para os
especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, a crise atual não apaga
os principais acertos do partido, a maioria econômicos. "O PSDB
implementou no País um novo padrão de qualidade de gestão. Fez isso a partir do
Plano Real, da Lei de Responsabilidade Fiscal, do controle de gastos",
avaliou o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. "Esse legado não
se quebrou." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Agência Estado