Iguatu. Dos 98
reservatórios monitorados para fins de análise de qualidade das águas
interiores pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 81
apresentam índices de poluição considerados elevados, 16 medianos e apenas um
(Açude Tatajuba, em Icó) mostra nível limpo. Os dados são do portal hidrológico
da Cogerh e têm por base a análise de composição química da água.
O elevado
índice de poluição dos reservatórios (açudes e rios) é preocupante, pois são
fontes de água para o abastecimento humano de moradores dos centros urbanos e
áreas rurais. "Essa situação exige atenção dos governantes, ações
preventivas e mais investimentos para o adequado tratamento da água",
observa a professora Sandra Santaella, do Instituto de Ciências do Mar
(Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Agravamento
A docente do
Labomar observa que depois de cinco anos seguidos de estiagem, sem recarga dos
reservatórios, houve maior concentração dos poluentes. "A chuva contribui
para carrear os nutrientes para os reservatórios, mas a falta provoca uma
concentração dos elementos químicos, favorece o processo de concentração das
algas, como se fosse uma 'sopa de algas'. Quando há cheias, verifica-se uma
melhoria da água que se renova", frisou.
O estado
trófico é um processo normalmente provocado pelo homem e também de ordem
natural, mas, neste caso, em uma escala de cerca de 500 anos. Tem como
princípio básico a gradativa concentração de matéria orgânica acumulada nos
ambientes aquáticos. "Quando se constrói os açudes não é feito o
desmatamento e a vegetação se decompõe liberando nutrientes e acelerando o
processo de eutrofização", explica Sandra Santaella.
Os fatores que
contribuem para a crescente taxa de poluição nos reservatórios são os dejetos
domésticos (esgoto), fertilizantes agrícolas e efluentes industriais, diretamente
despejados nos rios, lagoas e açudes. A quantidade excessiva de minerais
(fósforo e nitrogênio) induz a multiplicação de micro-organismos (as algas) que
habitam a superfície da água, formando uma camada densa, impedindo a penetração
da luz.
Com reduzida
penetração da luminosidade ocorre a queda da taxa fotossintética nas camadas
inferiores, ocasionando o déficit de oxigênio suficiente para atender a demanda
respiratória dos organismos aeróbios (os peixes). Nesse quadro, não conseguem
sobreviver, aumentando ainda mais o teor de matéria orgânica no meio.
A consequência
é a elevação do número de agentes decompositores (bactérias anaeróbias
facultativas), atuando na degradação da matéria morta, liberando toxinas que
agravam ainda mais a situação dos ambientes afetados, comprometendo toda a
cadeia alimentar, além de alterar a qualidade da água, também imprópria ao
consumo humano.
Distribuição
O mapa do
estado trófico do portal hidrológico da Cogerh, referente a novembro de 2015,
mostra que em todas as bacias hidrográficas há açudes com índices elevados de
poluentes (hipereutróficos e eutróficos). Há, entretanto, uma concentração na
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Os três
maiores açudes do Ceará (Castanhão, Orós e Banabuiú) estão no índice eutrófico
(que apresentam alterações indesejáveis na qualidade da água e interferindo no
seu uso). Esses reservatórios recebem água dos rios Salgado, Jaguaribe,
Banabuiú e de seus afluentes para onde são despejados diretamente, sem
tratamento esgotos das vilas rurais e das cidades.
A professora
Sandra Santaella observa que as algas são tóxicas, fazem mal e podem até levar
o ser humano à morte. "Sem dúvida é preocupante o elevado nível de
poluição desses reservatórios", frisou. Esses açudes são fontes de
abastecimento de água, não apenas das cidades do Interior, mas também da
Capital e Região Metropolitana. "O quadro exige atenção das autoridades e
adoção de medidas preventivas, pois a seca é cíclica, agravando a qualidade da
água", completou.
Os índices de
coliformes fecais e totais também estão relacionados com a eutrofização dos
corpos de água, mas referem-se a outro tipo de análise da qualidade da água. Os
dados da Cogerh relacionam-se com análise de novembro de 2015. "É um
período razoável de análise, pois são muitos reservatórios e parâmetros a serem
verificados. Sempre haverá defasagem, mas é um tempo razoável, que não vai
alterar muito a situação, pois as mudanças são lentas", explicou Sandra
Santaella.
Por meio de
nota, a Cogerh afirmou que há uma tendência natural de os reservatórios
apresentarem-se eutrofizados, principalmente, após um período de cinco anos com
reduzidos aportes de água durante a estação chuvosa. Frisou que há uma
tendência de aumento da eutrofização com o fim da estação chuvosa e observou
que poderá haver diminuição com a provável recarga/sangria dos reservatórios na
próxima estação chuvosa, em 2017.
Diário do Nordeste