Sem cargo público, mas com um
capital eleitoral de quase 20 milhões de votos depois de perder a última
eleição presidencial, a ex-senadora Marina Silva abriu em março de 2011 uma
empresa para proferir palestras e faturou R$ 1,6 milhão com a atividade até
maio deste ano.
Marina sempre manteve em segredo
os detalhes sobre a atividade que virou sua principal fonte de renda desde que
deixou o Senado. Agora candidata à Presidência da República, ela aceitou
revelar o valor de seus rendimentos após questionamentos da Folha.
Em pouco mais de três anos,
Marina diz que assinou 65 contratos e fez 72 palestras remuneradas. Ela se
recusa a identificar os nomes das empresas e das entidades que pagaram para
ouvi-la, alegando que os contratos têm cláusulas de confidencialidade.
Editoria de Arte/Folhapress
No ano passado, a própria Marina
pediu a entidades que a tinham contratado para não divulgar seu cachê, como a
Folha informou em outubro.
Os ex-presidentes Luiz Inácio
Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, que também cobram por palestras
desde que deixaram o cargo, mantêm igualmente em segredo os valores que recebem
e a identidade dos clientes.
O faturamento bruto da empresa de
Marina lhe rendeu, em média, R$ 41 mil mensais. O valor é mais que o dobro dos
R$ 16,5 mil que ela recebia como senadora no fim de seu mandato, em 2010.
Os rendimentos da empresa de
Marina aumentaram ano a ano, saltando de R$ 427,5 mil em 2011 para R$ 584,1 mil
no ano passado.
Em 2014, por causa das eleições,
Marina assinou só um contrato de R$ 132,6 mil para apresentações em quatro
países da América do Sul e suspendeu em junho a contratação de participações
remuneradas. As últimas cinco palestras foram gratuitas, antes do início
oficial da campanha eleitoral, em julho.
O valor do último contrato
remunerado fechado pela empresa de Marina se aproxima do valor total dos bens
que ela declarou à Justiça Eleitoral como candidata à Presidência da República.
Ela estimou em R$ 135 mil o valor
de seu patrimônio pessoal, que inclui uma casa e seis terrenos em Rio Branco, a
empresa criada para contratar sus palestras e uma conta no Banco do Brasil. Em
2010, Marina estimou o valor de seus bens em R$ 149 mil.
SALA FECHADA
Com capital de R$ 5 mil e sede em
Brasília, a empresa M. O. M. da S. V. de Lima foi registrada em 2011 com as
iniciais do nome completo da candidata: Maria Osmarina Marina da Silva Vaz de
Lima.
A empresa tem a ex-senadora como
única proprietária e foi criada como de pequeno porte exclusivamente para ela
proferir palestras e participar de seminários e conferências. Segundo a
assessoria de Marina, a empresa tem só um funcionário.
Para que se enquadre como de
pequeno porte, a lei exige que o negócio tenha faturamento anual entre R$ 360
mil e R$ 3,6 milhões.
A empresa funciona numa sala de
cerca de 40m² alugada por R$ 1.507,30 mensais, ao lado do Instituto Marina
Silva, que intermedeia palestras gratuitas e ocupa outras cinco salas no mesmo
edifício.
Na sexta-feira (28), a Folha
visitou a sede da empresa, que estava fechada. Os funcionários do instituto
abriram o escritório, que tem uma antessala e uma sala de reuniões, onde se
encontra uma mesa oval com sete cadeiras.
Criado para cuidar de projetos da
área ambiental e atividades como a digitalização do acervo de Marina, o
instituto é uma associação privada mantida com a renda da ex-senadora e com
doações.
Entre as principais doadoras está
a herdeira do banco Itaú Neca Setúbal, que atualmente coordena o programa de
governo da candidata.
Fonte: Folha de São Paulo
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